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24 de junho de 2013

INDISPONIVEL

 
Ela sofria de indisponibilidade
De todos os males, esse foi o pior sintoma da doença que quase me matou
Sufocado, asmático, apaixonado
Diante dela, ausente, viajante, sempre pra fora de mim
Eu, com imunidade baixa
Ela, calçando o salto agul
ha pra ir pra longe,
Eu, coração beligerante contra o corpo débil de amor
Ela, fria como morta
Às vezes me pergunto: quem vai sobreviver a isso?

Texto: Micheline Mustafa

31 de maio de 2013

APOSTA




Eu paguei pra ver e você comprou o meu passe.
Alto preço, eu sei.
Investimento que não pode ser devolvido, reembolsado.
E quem precisa de troco num jogo de amor?
Você quer quebrar a banca
Mas apostas lançadas não voltam atrás.
Nenhum de nós sabe como vai acabar.
É ganhar ou parar de te amar.
 
Texto: Micheline Mustafa

7 de junho de 2012

ESPERO

Te espero em todas as esferas.
Te espero abrir a porta e sucumbir ao meu cheiro, como uma porção mágica encantada que tenha efeito imutável.
Espero seus olhos dizerem aos meus que são eles a última coisa que quer ver antes de fechá-los a noite.
Espero sua boca sedenta em meu sexo, ansiosa pela confirmação da minha lascívia.
Que nao precise pedir para que você me ame, porque você me ama sem pedir nada.
Espero suas ordens, suas cobranças, seu ciúme, mas eles não vem.
E eu espero.
Espero sempre que teus olhos falem mais que teu silêncio em nossas conversas mudas.
E que eu nao precise repetir que te amo. Nao espere isso de mim.
Por enquanto eu só espero.
Que você venha e não vá nunca mais.
Que você chegue e se espalhe, tome posse, faça uso capião.
E que os dias sem você nao sejam uma longa espera.


  8 junho 2012
texto: MICHELINE MUSTAFA

6 de junho de 2012

FOGO


Desmistificar o amor não é fácil.
Toda estorinha romântica tem o peso de acabar bem para ter sido considerada boa.
A gente nao pode evitar esbarrar com essa expectativa, porque quando se fala em amor, o terreno é vulcânico.
Mas os fragmentos do romance podem ser tão bons quanto o texto corrido, com inicio, meio e sem fim (ruim).
Quem inventou "Happy End" nunca viveu o amor aos pedaços, sem desbloqueios, devaneios. Nao se escondeu pra ver o amor passar sorrateiro, enquanto vivia uma paixão tórrida em paralelo. Não entende o poder reconstrutor de um fora, de um flagra ou de uma traição.  Nao percebe que o amor pode ficar congelado e ser aquecido como uma marmita de uma semana. Basta ter fogo. Nao que queima a pele, mas que queima a alma. E basta muito pouco dele para incendiar o resto que sobra.
Desmistificar o amor não é simples.
Se despir de medos, dos jogos, tirar de cima as fraudes construidas, esquecer as convenções e as diferenças.Tudo perfeito para parecer ser merecedor do amor.
Desmistificar o amor pode torná-lo simples, descomplicado.
Para deixá-lo de fácil acesso pra chegar e sair quando for conveniente, mesmo que ele nao volte.
Amor é pra queimar enquanto há combustível.
E se o "Happy End" nao acontecer como nos filmes, a gente compra uma pá e recolhe as cinzas.

Texto: Micheline Mustafa

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