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29 de agosto de 2009

PRINCIPES, SAPOS E ASSEMELHADOS

Mariana era a mais romântica das mulheres.
Sonhava com principes encantados.
Era daquelas meninas criadas para servir a um só homem, devotar-lhe respeito, fidelidade e horas investidas em passar, coser e cozinhar, que traduziam piamente, pra ela, o significado de amar. Sonhava com os rituais religiosos do casamento, tanto quanto os simbolismos do matrimônio. Vestido de noiva pra Mariana era como um inédito modelito da Balenciaga para uma fashionista.

Mariana acreditava em amor à primeira vista até que o seu grande primeiro canalha a encontrou, fazendo-a perceber que aquilo era apenas um "quero-comer-você" à primeira vista.

Amigas a convenceram de que o destino lhe pregou uma peça e que não se fechasse para o amor.

Assim, foi atrás do canalha número dois, apresentado por amigos que juravam que eles foram feitos um para o outro, tal como glacê para bolo ou pomada para a bundinha do bebê.

Acreditando ser este o remédio que a curaria da ressaca de amor, ela foi. Na realidade, foi e voltou. A distância tornou a relação impossível,
e como não era nada tão grande assim que merecesse 18 horas de onibus, divididas com galinhas e plantadores de banana, ela desistiu. Mas só depois dele ter dito que andava muito, muito ocupado com o trabalho para viajar. Mariana chegou à conclusão que não havia nenhum sacrificio do lado de lá para estar com ela.

O buraco no lado nordeste do coração, próximo à válvula mitral, foi preenchido por aquele que disse ser o homem de sua vida. Que lhe apresentou à sua mãe, e aos 30 anos, jurou que não havia mulher como ela. Que amava seu jeito de cozinhar coisas esquisitas, suas manias por jogos que mais ninguém jogava e as cartas que trocavam, que mais pareciam presentes dela dos quais ele não queria se separar. O homem que a amava tanto que zelava por seu sono e cheirava seus travesseiros depois de usados, querendo lhe sugar o perfume do corpo cheio do ardor e água de colônia.

Depois dos planos de amor elevados à segunda potência e de imaginar que sua alma gêmea univitelina, embora um pouco mais tostada que ela, havia descido do céu, Mariana estabeleceu que em dois anos estariam casados, de papel passado, sr. e sra. Sampaio, compartilhando o macarrão parafuso de domingo em frente ao jogos do Vasco na TV.

Nada que uma escapadinha do futuro-canalha-marido-de-meia-tigela não pudesse estragar com um churrasquinho de fim de semana regado à cevada gelada e vaginas pulsantes.

A terceira decepção fez com que Mariana quase desistisse. Cruzou na vida com uma boa dezena de príncipes de carne-e-osso transformados em anuros de diversas espécies, desde os SAPOS até as PERERECAS (estas nunca convenceram-na de mudar de opção sexual).


Encontrou outra dúzia de cachorros e se apaixonou por alguns deles, mas no caminho acabou mudando o objeto da sua busca: em vez de amor eterno e sobrenome de casada, queria apenas a garantia de excepcionais orgasmos e nenhuma ligação no dia seguinte.

E quanto aos vestidos de noiva, daqueles de duas mil camadas de renda com o qual sonhava ? Chegou a conclusão que mais pareciam vestidos de baiana de acarajé.

MARIANA DECIDIU : a falta de uma relaçao e de todos os seus simbologismos não a fariam infeliz de novo.

P.S.: hoje Mariana divide a cama e o nome no SPC com um homem que nunca lhe prometeu nada, nunca lhe jurou amor eterno, não lhe deu aliança nem assinou papel algum. Um homem que nunca levou-a para conhecer a sogra e de quem, se um dia enviuvar, possivelmente não tenha direito a nada. Mas O HOMEM que lhe devota o maior de todos os amores e a faz sentir a melhor dentre todas as mulheres da terra.



P.S. 2: Mariana é muito feliz !




TEXTO: MICHELINE MUSTAFA




16 de agosto de 2009

PROPRIEDADE PRIVADA


Prove-me.
Tenho o gosto dos venenos mais amenos, serenos
E prometo te matar sem nenhuma dor, amor

Obedeça.
Me deixe sozinha sempre que eu te pedir
Mas insista para ficar sem eu deixar
Adoro ser contrariada, pra variar.

Rasgue minha roupa, mas rasgue com delicadeza
Afinal, safadeza não combina com aspereza

Me sugue, mas não muito.
Provoque, mas não sufoque.
Quero espaço, quero poder me espalhar.

Cozinhe meus prazeres gastronômicos
Nada econômicos
Mas cuidado pra você não me engordar
Eu provo, mas não vou te perdoar

Me deixe nua com suas verdades,
Mas enxergue minhas mentiras sinceras
Eu juro, não quero ter que te explicar

Leia pra mim todas as cartas de amor da historia,
Decore os nomes dos amantes na memória,
Faça cena
Mas será uma pena se você exagerar

Enxergue que sou cega de amor
E me traga óculos quando eu ameaçar ver o que não há

Se lembre de dia de mim
De tarde de mim
De noite de mim
Mas não me ligue, benzinho
Senão eu vou enjoar

Me embriague sem que eu perca a lucidez
Ficarei louca
E prometo me entregar mais uma vez

Sou contradição, eu sei
Cilada,
Mas confesso que entro fundo na jogada

A escolha é sua,
Me invada
Mas saiba que sou propriedade privada.



TEXTO: Micheline Mustafa

6 de agosto de 2009

BOTOX

Quando tinha 5 anos, aprendi que não Papai Noel não existia ao reconhecer as unhas pintadas de minha mãe, que estava disfarçada de bom velhinho na porta de casa.

Aprendi que a distância podia ser dolorosa aos 7 anos, quando meu choro se juntou a outro, que me via partir.


Aprendi que não ter peitos aos 9 anos podia ser melhor do que querer diminuí-los aos 15.

Aprendi que os beijos não eram os responsáveis pela concepção dos bebês.

Aprendi que gostar de alguém aos 12 podia ser perigoso se você não sabia o que fazer com isso.

Aprendi aos 15 que telefones tem extensão e que minha mãe podia estar numa delas me ouvindo.

Aprendi que se apaixonar não deveria significar adoecer.

Aprendi aos 18 que todos os meus atos tinham conseqüências e que a partir dali, minhas escolhas seriam minha sentença.

Cresci. Mas nunca aprendi que meu corpo acumula o que eu como. Por isso, ele carrega as lembranças daqueles biscoitos recheados que um dia comi.

Amadureci e aprendi que se você se acostuma com a mediocridade, começa a fazer parte dela.

Aprendi que não é porque nunca tive que jamais terei.

Aprendi que o tempo na terra é curto. E que meus avós não vão durar pra sempre.

Aprendi que a pele da gente não é de plástico e que minha mãe sempre teve razão ao me dizer isso.

Aprendi que mudar era necessário. Mesmo que tenha sido doloroso.

Aprendi que se não engolir a tecnologia, ela me engole.

Aprendi que o tempo é muito menor do que eu tenho que fazer na vida.

Aprendi que meu chefe chega mais cedo justo no dia em que eu me atraso.

Aprendi que a maioria das coisas com as quais me preocupo nunca acontecem.

Aprendi que a vaidade emocional nos move mais do que a vaidade física.

Aprendi que rugas podem ser disfarçadas, que as velas do bolo não precisam ser expostas e que as fotografias não tem que ter datas. Mas mesmo querendo negá-lo, foi o tempo quem trouxe minhas melhores experiências.

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