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12 de dezembro de 2008

CRIMES PASSIONAIS

Celular toca.

Ela atende ofegante, depois de constatar no visor que era a ligação que tanto esperava.

Ok, ela concorda com o encontro proposto pela pessoa do outro lado da linha após 8 segundos de meias palavras carinhosas que queriam dizer, na verdade: QUERO TE COMER.
Não levaria 3 se o sujeito falasse logo, sem contar com o tempo do "ALÔ".

Ela se ilude, claro. Após 15 segundos, acha que o cara já disse que a ama em senegalês, mas ela é que não soube traduzir o idioma.
E concorda com o encontro.

Muda o roteiro do dia, cancela compromissos importantes. E marca o check-up total no seu pet-shop de confiança.


Faz depilação de todas as partes do corpo onde haja pêlo. E descolore os que não dá para arrancar. Faz drenagem linfática, unhas, hidrata cabelo, corta, escova e sai de lá um tantão mais bonita. E mais pobre.

Compra lingerie de renda francesa, usa perfume Calvin Klein e maquiagem das mais caras.
Passa hidrantantes no corpo inteiro. Se besunta de óleos especiais em partes que somente um obstetra poderia ver.


Prepara a casa com aromas, sabores e ritos.
Prepara a cama com apetrechos de toda ordem.

E prepara a alma com expectativa.

Celular toca.
O visor denuncia o nome do sujeito pelo qual ela está assim, absolutamente desesperada.
Ele está na portaria e vai subir.

O coração dela acelera. Dá saltos igualáveis a um mergulho de bungee jump.

Abre a porta para ele, esperando antes de mais nada, o olhar cobiçador seguido da palavra romântica.
Nada. Nada de flores. Nada de palavras. Nada de olhares.
Ele pula em cima dela sem ao menos reparar no quilo de massa corrida que passou na cara.
Sem sentir o cheiro da casa, sem ouvir a música, sem ver o corte de cabelo.
O vestido dela desce até o joelho em milésimos de segundos, enquanto ele sussurra em seu ouvido palavras obscenas.
Não vê o sutiã de renda, porque o arranca enquanto a beija.
E rasga sua calcinha como quem abre um sachê de ketchup.
Para quê cama com lençóis de algodão egípcio, se a primeira coisa que ele vê na frente é o sofá ?
Não há Veuve Clicquot que lhe seja aprazível beber, embora ela tenha empregado uma fatia do seu décimo terceiro em duas garrafas.

Entre um amasso e outro, comenta que seu perfume é forte demais.
Mas continua com a cara enfiada nos peitos dela.
E mesmo percebendo que não há um pêlo sequer povoando toda a sua extensão corporal, não comenta nada porque deve pensar que ela nasceu assim, filha de índio.
Embora, obviamente, não haja flechas na decoração de sua casa.

Aos poucos, empurra a cabeça dela para dentro da sua calça. E começa a looooooonga espera em busca do seu próprio prazer.
De braços cruzados e olhos fechados, sorri gemendo.
E fica nesse prazer que, para ele dura uma eternidade. E para ela, representa o momento mais engasgado de sua vida, quando está com a boca ocupada demais para reclamar. E por pouco, não morre entalada.

Em poucos minutos, ele procura buracos nela.
E começa a ser rápido, muito rápido. Tão rápido que ela pensa que se encontrou com uma britadeira. Das que fura e faz barulho em seu ouvido.

E quando ela acha que está para ficar bem feliz, como qualquer mulher merece, ele vai dá o urro final, antes de desligar a máquina e dizer que o brinquedo ficou sem pilha.

E roncará nos próximos 20 minutos, após ter grunhido algo ininteligível aos seus ouvidos perfurados. E vai ficar assim, sem dizer uma palavra, mesmo estando em sua casa, em sua cama e ainda dentro da sua vagina.

AÍ ELA PENSA:
"Assim é que nascem as serial killers."



2 comentários:

  1. Q história interessante, realmente um fato real...homens..ai ai!!
    Adorei o conto, isso acontece nas melhores famílias...rsrsrsrs
    Nem prestam atenção na lingerie de renda francesa q nós mulheres passamos horas pra decidir qual delas deixam a gente mais sexy!!

    Texto Perfect

    ResponderExcluir
  2. Muito bom amiga!
    VC está se transformando numa Martha Medeiros dos relacionamentos femininos....interessantíssimo a sua forma de prender a atenção do leitor....neste texto vc conseguiu traduzir muito bem as expectativas das mulheres com relação a um "encontro com sua alma gêmea" e a forma como os homens transformam este "amor todo" em uma simples "trepada do dia"...... perfeito.

    Parabéns!
    Beijo Grande
    ADELAIDE

    ResponderExcluir

Já que está aqui, fala!

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