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11 de setembro de 2010

Casamento é como um "COMBO"

                          
                                               (foto que tirei do casamento de meu irmão)

Um dia, lá pelos confins do passado, um grande amor me arrebatou de vaidade ao me pedir em casamento.
O gesto coroava o encontro mágico que tivemos e embora eu estivesse absolutamente apaixonada aos 22 anos, uma certeza era latente: casamento era como dizer “NÃO” ao resto de minha vida.
E então, eu disse "NÃO" a ele.
Deixar a boemia e a construção de meus alicerces profissionais naquele momento era uma decisão que antecipava (eu diria precipitava) um futuro para o qual eu não estava preparada. Não via mudando da terra do acarajé para a terra do congestionamento, de aliança no dedo e algema nos pulsos.
E olha que eu o amava. Mesmo ele sendo do Vasco.

Os tempos mudam.

Casamento agora me parece um “SIM”. Um "sim" com seus disfarces.

É como um “COMBO”, no qual você adquire aquilo que mais queria comer, mas tem que levar um plus só porque vale mais a pena pagar pelo conjunto.

A pergunta crucial que o padre faz aos noivos deveria ter um parêntese imenso com tudo o que a proposta inclui.

“Meus filhos, vocês aceitam um ao outro, amando-se e respeitando-se, mesmo na TPM e no desemprego, na trepada do século ou na brochada do milênio, até que a falta de vontade de estar um com o outro os separe?”



Antes de dizer “SIM”, deveria existir um tempo pra pensar no COMBO.

Dizer “SIM” à hipoteca da sua vida, sem tempo para financiamentos baratos.

Dizer “SIM” à falta de exclusividade do controle remoto, ao espaço inteiro da sua cama para rolar durante a noite e ao fato de passar a ser não mais você, mas SRA. fulana do tal. Se ele for um Pinto, dizer “SIM” ao fato do carregar o pinto nas costas (nada contra Pintos, juro!).

“SIM” também às vantagens que o sobrenome dele oferece e quanto à cama, se for king e ele for mega plus size, tudo bem!

Dizer “SIM” aos amigos cachaceiros que ele tem, sem bons modos, sem bons hábitos, sem bons antecedentes. E “SIM” às esposas que se tornarão suas amigas para o resto da vida, mesmo que o casamento delas acabe antes. Ou o seu.

“SIM” à infeliz idéia de ser telespectadora vip de todas as sessões de ronco que ele vai singelamente lhe oferecer, madrugada após madrugada, mesmo sem se dar conta. Ah, ok. Antes dos roncos, virão infindáveis orgasmos regados à “YES, YES, YES” (SIM, SIM, SIM).

“SIM” aos pedaços de unha cortados sobre o chão limpo da sua sala recém faxinada, aos cotonetes sob a pia do banheiro e aos outros tantos viciozinhos de limpeza enfadonhos que ele desenvolverá ao longo da vida. “SIM” também à falta desses vícios. 
Mas “SIM” para não estar sozinha no auge de uma febre e contar com maridinho para a tarefa de lhe dar banho.

“SIM” para o banho a dois cheio de safadeza na noite de uma terça-feira sem graça.

“SIM” para lisura, para conjecturas, para clausuras.

“SIM” para cenas de ciúme, para mancadas, para ciladas.

“SIM” para o consolo ou para o choro desenfreados porque ele não quer discutir a relação.

“SIM” para manifestos contra os seus bobs no cabelo e para os elogios que ele lhe fará diariamente. Ou de vez em quando.

“SIM” para temperamentos explosivos quando ele bater o carro e para o carro novo que ele comprar após a batida. “SIM” para a “inauguração” do carro novo.

“SIM” para azia, para idiossincrasia, para esquizofrenia.

“SIM” para paletós com corte italiano, para restaurantes mexicanos e para campeonatos sul-americanos.

“SIM” às metonímias inerentes ao homem e ao seu caráter predador. E a elas, dizer “SIM”, porque mulher gosta de ser “comida que mata a fome”

“SIM” para sua nova intimidade com a máquina de lavar+ as cuecas sujas dele. E para o fato de nem existir roupa que os separe na cama.

“SIM” para metade do domingo esfregando um carro, para o bode depois da feijoada, para a olhada indecorosa na vizinha.

“SIM” para a mão dada na hora da má noticia, para o casaco oferecido no frio do cinema, para a massagem nos seus pés esfacelados de dor.

“SIM” para o toque gentil em seu rosto sem maquiagem, “SIM” para defendê-la de tudo que pode machucá-la.

“SIM” para outra presença, mesmo quando tudo o que se quer é um pouquinho de si mesma. “SIM” para nunca mais se sentir só.
 
“SIM” quando antes dele tudo o que você ouviu foi um “talvez”, tudo o que você amou foi engano, tudo o que você desejou foi unilateral.

“SIM” pela módica quantia de passar os próximos anos da vida sendo dois, ao invés de apenas um.
Afinal, como eu disse, o casamento não passa de um COMBO.

Obs.: uma pena não estar à venda em qualquer lojinha de conveniência!


Texto: Mitchel Mustafa
Escrito onde: num vôo entre Recife e Salvador. Concluido no sofá do meu escritorio, num sábado sem aula.

10 comentários:

  1. Mano e cunha,
    Estou feliz porque vocês agora são um só!

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  2. Amiga
    A sua mensagem foi linda sobre o combo do casorio...rsrsrs

    Bjos, bom findi!
    Rebeka

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  3. Ola! tudo bem? agradeço sua visita e contente que tenha gostado de meus textos. autorizo sim o uso de meu trabalho. fique à vontade. mas claro, sempre creditando a minha pessoa... justo, né? rss

    mais uma vez, obrigado pela visita

    bjs

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  4. Amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
    Ameiiiiiiiiii. VC como sempre iluminada e criativa.
    Bjkas
    Xanda

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  5. ADOREI!!!!!!!!!!!!!!!!!

    FANTÁSTICO ESSE TEXTO MITCHEL...

    BJ ENORME!! SAUDADE!

    GABI

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  6. Querida CHELLLLLLLL,

    Gostei!
    Não sei se foi impressão minha, senti inicialmente as expressões pesadas, as expressões ásperas denotam uma certa dificuldade de abrir mão de sua liberdade e individualidade, para se embrenhar na convivência a dois. Após o desabafo o texto tornou-se mais leve e suave, senti que passou a demonstrar que no fundo apesar dos entraves gostaria também de passar pela expriência do casamento.

    Beijos.
    Tia

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  7. Tia,
    Nao vou negar que pensar na perda da individualidade, do espaço e da privacidade assustam. Mas como num COMBO, há o melhor lá, aquilo que você quer muito provar. O casamento pressupõe a certeza de que você terá muitos deleites. Isso não é sedutor?
    Acho que casamento é como experiencia 3D: você precisa experimentar...

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  8. Massa, Mil!!!
    Adorei a foto do casamento de seu irmão. Linda mesmo. Vc tá de parabéns: fotógrafa, escritora, multi-talentosa. hehehehehe

    bjo grande,
    Syl

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  9. Micheline, apenas hoje foi que entrei em seu blog, pois havia perdido o endereço, e fiquei muito surpresa e feliz por ler seus textos, vc é muito talentosa. Adorei!!! Agora vou entrar sempre.
    Adorei também te conhecer,vc é uma companhia muito divertida. Não me esqueci de suas máquinas antigas, estou em busca delas!
    Um beijo
    Eliani Vello 13/12/2010

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  10. Aff! Fiquei lisonjeada com a foto da minha mão aí em cma! Quanto tempo não entrava aqui! Que riqueza de texto e detalhes na escrita! Vc é um talento e já te falei isso inúmeras vezes! Grande bjo!
    Sua Cunha (Com um combo..rs..)

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Já que está aqui, fala!

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