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26 de julho de 2010

LIBERDADE CONDICIONAL

Eu sou o que pareço, mas nem sempre sou eu mesmo. E acho que você também não é. Engulo todo dia uma miríade de ordens, de necessidades alheias, de pedidos para ser um ouvido amigo, um contato, uma vaga no quarto ao lado.
Fazem-me enxertos com uma tonelada de espaços preenchidos com o certo, o sensato, o que não engorda, o que é legal, o que é de bom tom.
Eu nunca grito, nunca nego, nunca bato, nunca reivindico.
Sempre posso, acato, abraço, aceito.
Não que não deva, mas por uma intolerável necessidade de dizer que sim.
A liberdade condicional me nega palavras.
Mesmo as que gritam na garganta
E meus olhos reclamam porque ninguém os entende
Já fui e voltei infinitas vezes na garupa da sua moto, te dizendo "fica comigo pra sempre", bem baixinho em seu ouvido.
Estou aqui, num dia fértil, cheia de pensamentos sem os quais eu posso sufocar, mas pra quem falar?
Não posso gritar toda vez que dá vontade de negar o que faço.
De dizer que não gosto, que não quero, que não posso.
Mas tento.
Queria poder andar a 200 km por hora toda vez que meu coração acelera assim, sem fim.
E não precisar de parâmetros para estar certo, para ser bem conduzido.
Queria verdades inteiras, sem palavras medidas ou estratégias de manutenção.
Que o mundo todo saiba o que é gostoso dizer, o que gostoso fazer, o que nos dá prazer.
Porque os apaixonados não pintam faixas nas ruas, dizendo que não podem viver sem aquela calcinha misturada às suas camisetas?
Minha língua coça pra dizer que sua barba me arranha, mas que penso nela toda vez que deito na cama sem teu corpo reclamando o meu.
Que suas meias sentem falta de meus pés gelados e eu sinto falta de arrancá-las de você no meio da noite.
Meu mundo é de meias verdades.
Algumas que me nego dizer.
Em outras, meus olhos transgridem.
Você tem medo de amar ou de dizer que é só sexo?
Não existe prisão, somente uma liberdade condicional.
Não dá para ser somente racional.
Vou gritar pra você agora: ESTOU AQUI, MAS NÃO DEMORA.
Eu sou alguém que existe, mas posso acabar quando toda essa vontade for embora.

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