Instinto Animal

Dias atrás, observando as coisas pelo vidro do carro enquanto estava presa num engarrafamento infernal, coisa que em Salvador tem acontecido frequentemente, avistei uma cena que me deixou dando gargalhadas.
Numa renião de cachorros, à beira do esfalto quente, em plena orla marítima, um macho desordeiro e de pelagem negra, de porte atlético e jeito de cafajeste, se juntou ao grupo, trocou meia dúzia de grunhidos com um ou outro cão próximo a ele e deu um salto na traseira de uma formosa cadelinha de estatura mais baixa, de orelhas levemente caidas e pêlo de cor bege dourado, quase beirando um tratamento de luzes canino.
A pobrezinha deu umas sacudidas no bumbum, nao sei se se fazendo de dificil ou se tentando melhorar o encaixe entre ela e o membro daquele cão que estava com a virilidade toda ali, exposta.
Encaixados, em meio a outros cachorros perplexos que assistiam a cena de camarote, eles se balançavam num prazer imenso, num concúbito que não tinha fim.
A coitada não teve direito a cantada, a uma taça de vinho, não recebeu um convitinho pro cinema e nem mesmo apresentou o cachorrão aos seus pais. Foi pega de açoite, no meio da rua, vorazmente, deliciosamente de surpresa.
Nao teve conversa no pé do ouvido e se houvesse uma calcinha, ela provalmente seria rasgada pelo cão com os dentes.
Porque gostoso mesmo é ser pega de surpresa, porque tudo o que uma mulher gosta de vez em quando é um bom macho invadindo o terreno, com lascívia e dominação.
Haverá um copo de vinho ou dois depois.
Mas nada como uma boa trepada sobre a pia da cozinha para alimentar o nosso espírito animal.